Está tudo bem, tu estás bem. É o que repito a mim própria. Não sei se apenas uma ou duas vezes. Talvez o repita dezenas de vezes e nem dê por isso. Repito-o porque sei o que vai acontecer. Sinto-o a chegar, de mansinho. Não é uma pessoa. É algo que me persegue. É o pânico. É o medo não sei de quê. Ao que parece, nenhuma das minhas palavras me acalmam. Não vale a pena lutar contra o meu próprio psicológico. É inútil. Sinto o meu coração a bater cada vez mais forte. Tenho vontade de chorar mas controlo-me, não quero que as outras pessoas notem. Não quero que se preocupem nem que sintam pena. Quero apenas que não notem. Com o coração a bater cada vez mais forte, sei que chega a palidez. Fico calada, sossegada, à espera que passe. Mas tanto tempo calada e ainda mais branca do que o normal, as pessoas acabam por adivinhar o que se passa. Preocupam-se e perguntam-me se há algo que possam fazer. A vontade de chorar é cada vez maior, porque não há absolutamente NADA que possa ser feito por mim. NADA! Vou ser diferente de todos para o resto da minha vida e a minha única opção é resignar-me a isso mesmo. Sinto o estômago às voltas. Sei que não vou vomitar, porque nunca cheguei a isso. Mas o medo é mais forte e acabo por sair e tentar isolar-me. Saio do cinema e deixo o resto do pessoal a ver o filme. Felizmente não notam, a não ser a pessoa a quem peço para vir comigo. Gosto sempre de ter alguém comigo nestes momentos, porque tenho medo de morrer. Nunca fui tão sincera como estou a ser agora. Tenho muito medo de morrer. Cada vez que tenho um destes ataques, uma das primeiras coisas que me vêm à cabeça é tentar fazer algo para o meu coração deixar de bater tão depressa, porque tenho medo que pare de vez. Estou farta. Farta de não poder fazer nada nem ir a lado nenhum por causa disto. Farta de não ter uma vida normal. Farta de pensar que, no futuro, vou ser uma pessoa isolada do mundo, que apenas sai da cama por tomar 4 ou 5 anti-depressivos. Não quero isso para mim. Nunca me imaginei assim. Mas agora imagino e sei que não é impossível eu vir a ser dessa forma. Por vezes sinto que mais valia perder a lucidez de vez. Assim não reparava. Nem dava por eles. Outras vezes, tenho medo disso mesmo. De enlouquecer. Tenho medo de mim própria, sinto que não posso confiar em mim. Tenho medo de ser demasiado fraca para conseguir ultrapassar esta fase da minha vida.